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Para muitos tutores, é um mistério por que alguns cães parecem já nascer com uma predisposição à ansiedade, ao medo ou à reatividade, mesmo em ambientes amorosos e estruturados. A verdade é que a formação do comportamento canino é um processo complexo que começa muito antes do nascimento do filhote. Fatores genéticos, hormonais e, crucialmente, o ambiente uterino e o estado emocional da mãe durante a gestação desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da personalidade e da saúde mental dos cães.
Neste artigo, exploraremos as raízes profundas da ansiedade canina, com base nas discussões do vídeo “Por Que Alguns Cães Já Nascem Ansiosos (e o Que Fazer com Isso)” do canal Disciplina Dog, com a participação do adestrador Thiago Oliveira e do especialista Rafael Wisneski, e em pesquisas científicas complementares. Entenderemos como o estresse materno pode moldar o temperamento de uma ninhada e o que os tutores podem fazer para mitigar esses desafios.
Tradicionalmente, a atenção ao desenvolvimento comportamental de um cão se concentrava nos primeiros meses de vida do filhote. No entanto, a ciência moderna tem revelado que a formação cognitiva e emocional do filhote inicia-se ainda no útero, durante um período crítico conhecido como “período neurosensível” da gestação. Durante essa fase, o ambiente uterino e o estado fisiológico da mãe têm um impacto direto e duradouro no desenvolvimento cerebral e hormonal dos filhotes [Vídeo – Disciplina Dog].
Um dos fatores mais significativos é o estresse que a cadela gestante pode experimentar. Seja por condições ambientais desfavoráveis, manejo inadequado, desnutrição ou até mesmo por sua própria predisposição genética à ansiedade, o estresse materno libera hormônios, como o cortisol, que atravessam a placenta e afetam diretamente o feto. Essa exposição pré-natal ao estresse pode “programar” o cérebro dos filhotes para serem mais reativos ao estresse ao longo de suas vidas [1, 2].
O estresse também altera a qualidade do cuidado materno, o que afeta o comportamento posterior dos filhotes. Como adultos, esses filhotes são mais propensos a serem mais medrosos e ansiosos. [1]
Filhotes de mães estressadas durante a gestação são mais propensos a desenvolver desequilíbrios emocionais, manifestando-se como ansiedade generalizada, medos excessivos, reatividade e até mesmo problemas de socialização. Eles podem ter uma capacidade reduzida de lidar com frustrações e estímulos novos, tornando-os mais vulneráveis a problemas comportamentais no futuro [1, 3].
Além do estresse materno, outros fatores podem predispor um cão a nascer com maior propensão à ansiedade:
•Genética: A predisposição genética desempenha um papel crucial. Se os pais do filhote possuem histórico de ansiedade ou medo, há uma maior probabilidade de que os filhotes herdem essas características. [Vídeo – Disciplina Dog]
•Ambiente Pós-natal: Embora a gestação seja fundamental, o ambiente nos primeiros meses de vida também é crítico. A falta de socialização adequada, experiências traumáticas ou um ambiente instável podem exacerbar qualquer predisposição inata à ansiedade.
•Qualidade do Cuidado Materno: O comportamento da mãe após o nascimento também influencia o desenvolvimento dos filhotes. Mães estressadas ou inexperientes podem não oferecer o cuidado e a segurança necessários, impactando negativamente o temperamento da ninhada [4].
Reconhecer que a ansiedade de um cão pode ter raízes tão profundas é o primeiro passo para uma intervenção eficaz. O adestramento, embora essencial, é apenas uma parte da solução. É necessária uma abordagem holística que considere todo o histórico do cão.
Antes de iniciar qualquer programa de treinamento, é fundamental realizar uma avaliação completa da vida e do bem-estar do cão. Isso inclui verificar se todas as suas necessidades básicas estão sendo supridas – alimentação adequada, exercícios físicos e mentais, ambiente seguro e enriquecido, e interação social. Problemas de saúde não diagnosticados também podem manifestar-se como problemas comportamentais, portanto, uma consulta veterinária geral é sempre recomendada [Vídeo – Disciplina Dog].
Para cães com predisposição à ansiedade, o adestramento deve ser focado em construir confiança, segurança e habilidades de enfrentamento. Técnicas de reforço positivo, dessensibilização e contracondicionamento são cruciais para ajudar o cão a associar estímulos temidos a experiências positivas. O objetivo não é apenas suprimir o comportamento, mas mudar a emoção subjacente.
Em casos de ansiedade severa, medo extremo ou reatividade que não respondem apenas ao adestramento e manejo ambiental, a consulta com um veterinário comportamentalista é indispensável. Este especialista pode avaliar a necessidade de medicação (psicofarmacologia) para ajudar a equilibrar a química cerebral do cão, tornando-o mais receptivo ao treinamento e mais capaz de aprender a lidar com suas emoções. A colaboração entre adestrador e veterinário é a chave para o sucesso [5].

Um ambiente enriquecido, com brinquedos interativos, desafios mentais e oportunidades para expressar comportamentos naturais (como farejar e mastigar), pode reduzir o tédio e o estresse. Uma rotina diária previsível também oferece segurança e ajuda a diminuir a ansiedade em cães predispostos.
A ansiedade em cães, especialmente aquela que parece inata, é um desafio complexo que exige compreensão e uma abordagem multifacetada. Ao reconhecer a profunda influência da gestação e dos primeiros estágios de vida, e ao combinar um adestramento consciente com o suporte da medicina veterinária comportamental, os tutores podem oferecer aos seus cães as melhores chances de superar suas predisposições e viver uma vida mais equilibrada e feliz. A Escola Disciplina Dog incentiva a busca por conhecimento e a colaboração com profissionais para garantir o bem-estar integral de seus companheiros caninos.
[1] USDA APHIS. (s.d.). Maternal Stress and Puppy Development. Disponível em: https://www.aphis.usda.gov/sites/default/files/acaids_canine-maternalstress_ac-19-005_6.19_0.pdf [2] Romaniuk, A. C. (s.d.). Implications for dog welfare in commercial breeding kennels. Purdue University. Disponível em: https://www.extension.purdue.edu/extmedia/VA/VA-35-W.pdf [3] Santos, N. R. (2019). A review of maternal behaviour in dogs and potential areas for future research. PMC. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7027574/ [4] Royal Canin. (2022). Comportamento materno em cadelas. Disponível em: https://academy.royalcanin.com/pt/veterinary/maternal-behavior-in-bitches [5] Clinivet. (2022). Adestramento x Consulta Comportamental: quais são as diferenças?. Disponível em: https://clinivet.com.br/adestramento-x-consulta-comportamental-quais-sao-as-diferencas/
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